Hoje senti necessidade em sair de casa. Acordei tarde, para não variar e sem qualquer tipo de vontade para fazer fosse o que fosse. O Ricardo diz que passei a noite inquieta, mas nem era necessário ele me dizer, eu sei que assim foi... Mas disse-me algo que não recordo: "A meio da noite fartaste-te de dar gargalhadas." - não me recordo de nada no que sonhei que me possa ter feito sorrir, ou rir mesmo. Talvez no meu sonho tenha ido para o meu Mundo, onde nada nem ninguém me consegue magoar, onde me sinto feliz... Acordei com lágrimas nos olhos, desejando apenas deixar de existir neste mundo, abandonar a minha vida que nunca passa do mesmo... Recomeçar - Lutar - Ultrapassar - Persistir - Recomeçar de novo... De que me servem pequenas vitórias se as grandes, as necessárias de modo a manter as pequenas, caem no esquecimento alheio e me deixam assim, perdida em mim mesma, sem qualquer vontade de seguir em frente? Apenas sinto necessidade de escrever e uma vez que em casa não consigo obter o silêncio que tanto preciso para o fazer, deixei-me arrastar para o jardim. E aqui estou, sentada neste velho banco com falhas de tinta, com a Sasha no meu colo, sentindo cheiros de drogas de uns, gritos e palavras sem sentido de outros... e lá vou continuando a escrever, sem parar.Já sentia falta de andar sózinha, sem ninguém por perto, onde escrevi parte dos meus diários de infância, em jardins. Ouvindo o trânsito longe, palavras distantes, sentido paz por poucos instantes. É bom poder sair da gaiola e esticar as asas, é bom poder sentir esta liberdade de voar para longe e retornar a casa. Se ao menos compreendessem o que sinto...Mas ninguém entende, nem eu consigo ou quero explicar. Talvez não devêsse existir, se calhar nem devia ter nascido. Mas todos esses "sse's" e "tavez's" nada importam. Nasci, existo e nada poderá alterar isso além da minha morte.Como referiu a Dementia ao me descrever, sou demasiado lúcida, mas incrivelmente sonhadora e sei que vou continuar a sonhar, a tentar fazer da minha vida, algo pela qual valha a pena viver. Não sou cobarde para terminar com a minha vida. Apenas quando me sinto assim, estagnada que nem as águas de um lago, necessito destes meus momentos a sós, para desabafar palavras confusas, pensamentos difusos que, ao passar para o papel, nada são que não uma nuvem cinzenta na minha existência, nos destroços da minha alma.