Fideal

Família (In) completa

É bom quando verificamos que temos uma família unida, que nos ama e se preocupa com o nosso bem-estar. Mas, quando esse elo de confiança não existe ou se quebrou, o que fica? O que resta? Resta apenas, e principalmente em caso de jovens, uma revolta por vezes, mas na sua maioria, uma enorme tristeza e desamparo. É não sentir apoio, não sentir preocupação, motivação.É o que sinto relativamente à minha família. É desprendida, desatenta, negligente por vezes até... Mas não é nada novo para mim, não é de hoje nem de ontem que isto acontece. Sempre tive uma educação ausente por parte do meu pai e violenta por parte da sua mulher. Aprendi a sarar depressa as feridas desse crescimento para me tornar forte e enfrentar a minha vida de forma independente o mais cedo possível, e consegui. Aos 18 anos saí de casa dos meus pais, aos 20 anos comprei casa, brevemente estarei efectiva no trabalho. Felizmente tenho do meu lado alguém que me ama e que me dá todo o carinho e atenção que me falta por parte da minha família. Mas não chega… nunca chega… Por mais que se queira nunca ninguém consegue substituir o amor familiar.Até consigo abstrair-me destes factos, uma vez que raramente estou com os meus pais ou irmãos e até mesmo com a restante família. O pior é nas fatídicas reuniões de família, aniversários, Natal, Páscoa e afins… Sinto-me como que invisível naquela família, oiço-os a falar distantes como se eu nunca estivesse presente ou se alguma vez tivesse existido. Falam do futuro dos meus irmãos, mostram orgulho neles e nas vidas que levam e limito-me a escutar, a ficar feliz por tudo correr bem com eles, por serem felizes…Mas… e eu? Estou cansada de me sentir uma sombra, parece que faço parte de uma mobília antiga, à qual já não dão importância. Magoa-me o facto de ouvir por vezes que X ou Y da minha família é motivo de orgulho por isto e por aquilo e ao referirem-se a mim, chamarem-me de “essa aí”. Mas acho que nunca nada mudará… a mulher do meu pai é uma pessoa extremamente materialista, creio que só daria valor se eu estivesse com alguém de elevadas posses monetárias, ou alguém de bom nome familiar. Uma vez que nada disso se passa, ignora simplesmente que existo.Só me perguntam como corre o médico caso também estejam interessados em ter uma consulta idêntica e fora isso nem se lembram, ou fazem por esquecer. O que mais me magoou foi eu ter referenciado que no futuro terei problemas com a minha futura gravidez e a única resposta ter sido: “Problemas vais ter tu se engravidares agora porque não há dinheiro, não penses que te ajudo, tem juízo pah!” – E no momento seguinte estarem a perguntar ao meu irmão, quando é que têm o tão desejado neto que pacientemente esperam… Sinto-me de facto triste, magoada, sentida com esta diferenciação, não com os meus irmãos pois fico feliz por vê-los felizes e amados por todos e sim pelos meus pais acima de tudo, que mesmo dizendo que não, denoto uma diferença brutal entre nós…Sim estou magoada, sinto-me uma menina mal tratada que tudo o que mais deseja é ser amada, que tenham orgulho em mim, que me vejam como sou com defeitos e virtudes como qualquer outra pessoa. Mas nada acontece, nada muda, nada me faz pensar ou acreditar que estou errada. Talvez o tempo ajude a habituar-me ou talvez me afaste para não sentir essa dor…

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